tigran hamasyan

Edições na Verve e na ECM, entre outras, cimentam um sólido percurso que o pianista arménio Tigran Hamasyan tem vindo a trilhar desde 2009. Entretanto, o mais recente The Call Within é já o seu quarto registo na prestigiada Nonesuch, segundo em trio depois de Mockroot (2015), com os restantes a serem exercícios solo plenos da exuberância técnica que já levou Herbie Hancock a declarar-se seu discípulo. Tigran Hamasyan, ressalve-se porém, tem apenas 33 anos e provavelmente ainda nem falava quando o veterano pianista lançou Perfect Machine, em 1988. 
 Escutando o mais recente e muito aplaudido álbum, que conta com o incrível Arthur Hnatek na bateria e com o não menos espantoso Evan Marien no baixo eléctrico, percebe-se que Tigran quis assinar uma espécie de manifesto. Pegando nalgumas nuances do metal mais progressivo, em modos harmónicos do folclore arménio e, pois claro, na infinita capacidade de invenção do jazzTigran Hamasyan consegue em The Call Within cumprir a difícil missão de equilibrar forma e conteúdo, técnica e emoção, rigorosa composição e invenção espontânea. E é esse delicado equilíbrio que de facto agarra quem escuta The Call Within, disco que parece ser igualmente capaz de evoluir com fluidez em tempos rítmicos impossíveis, daqueles que causam calafrios a estudantes de música, mas também de viver de um pulsar emocional muito humano, expresso nas melodias, nas dissonâncias atonais, nos intervalos dos ritmos, na beleza harmónica que sustenta cada uma das ideias. 

A música de Tigran Hamasyan tem matéria para o espírito, produto natural de um artista que se inspira na poesia, na contemplação dos mapas e nas lendas que o folclore cristão e pré-cristão da Arménia resguardou como sinais fundos de identidade. Absolutamente singular.