Lina_Raül Refree

A edição internacional do álbum de estreia foi a 17 de janeiro de 2020 pela Glitterbeat Records

Numa noite de fados as vozes mostram-se autênticas: sem amplificação, sem adornos e sem filtros, apenas nervo e talento, alma e paixão. Raul Refree entende bem o que é isso da paixão e como marca as vozes, tendo assinado a produção de Los Angeles, o álbum que colocou o fenómeno internacional Rosalía no mapa. Por isso mesmo, o músico e produtor não teve dúvidas quando ouviu Lina cantar no Clube de Fado, que é uma das mais reputadas casas desta cultura na capital, pouso certo de grandes vozes e viveiro de muitos talentos resguardados por Mário Pacheco, guitarrista que acompanhou os maiores artistas, incluindo a eterna Amália. E foi aí, à meia luz, num momento solene e autêntico, que Raul Refree se apaixonou pela voz de Lina.

A ideia de se juntarem num estúdio foi imediata e pouco depois cruzaram-se ambos numa sala especial, nos arredores da capital. Rodeado de sintetizadores vintage, de Moogs e Arps, de Oberheims e Rolands, mas também com o piano muito perto, Raul emoldurou a voz de Lina em névoa analógica, deixando as guitarras do fado na nossa imaginação, mas retendo toda a força de uma garganta carregada de verdade.

Lina mostrou-se à altura do desafio. Estudante atenta da obra de Amália, escolheu uma série de pérolas do reportório da Diva com o intuito de as usar como base de comunocação. Como se este projecto nascesse de uma busca do assombro, da essência. Já com um percurso dentro do fado muito sólido, mas também com estudos de canto lírico que lhe moldaram a entrega séria que possui, Lina partiu para esta aventura com uma bagagem muito funda, com plena noção do que a sua voz consegue transmitir.

Os arranjos resultaram extraordinários. Refree, que tem uma longa carreira na pop mais desafiante e que como produtor já assinou dezenas de trabalhos, de Sílvia Perez Cruz a El Niño de Elche ou Lee Ranaldo, além da já mencionada Rosalía, é um artista de extraordinária intuição. A curiosidade sobre o fado também o tinha acercado da obra de Amália Rodrigues em que identificou uma força universal tão intensa quanto a que marcava os clássicos de flamenco que bem conhecia. Concordaram ambos imediatamente que deveriam explorar o reportório da eterna fadista, despindo-o dos dogmas instrumentais do fado, mas retendo a sua mais funda alma.

Lina, com voz maturada pelas noites nas casas de fado, pela sua própria devoção por Amália e por todas as grandes vozes que ouviu, sentiu e estudou, é uma artista verdadeiramente especial: soa como se tivesse nascido no meio da história, a ouvir as divas a ecoarem nas vielas da sua imaginação. Soa autêntica e comovente. E por isso conquistou Refree.

Em temas como “Barco Negro” ou “Foi Deus”, “Ave Maria Fadista”, “Medo” ou “Gaivota”, qualquer um deles um monumento maior da memória do fado, Lina mostra-se artista completa, verdadeira e de um talento capaz de nos assombrar a todos. As suas interpretações são sobretudo humanas, emocionantes, preferindo arrancar as palavras ao coração do que moldá-las com a técnica que também estudou. Essa entrega oferece uma outra luz ao fado nos arranjos que Raul Refree lhe preparou. Sem truques ou filtros, mas com arte e com uma abordagem nunca antes tentada vestindo o fado com uma inédita roupagem electrónica que ao invés do o desvirtuar só lhe reforça a condição universal.

O fado é património imaterial da humanidade, uma cultura que ajuda a identificar um país que anda nas bocas do mundo e que tem atraído muitos artistas a Lisboa. Vindos de fora, esses artistas buscam no fado um terreno ainda imaculado, um rasgo de autenticidade num universo musical tantas vezes rendido ao artifício. Foi exactamente isso que trouxe Raul Refree a Lisboa. Essa busca do que é novo e sem tempo do que estremece e que o mundo precisa de ouvir. Mesmo que para tanto seja necessário desafiar as regras. É assim, afinal de contas, que se faz história.

A dupla estreou-se ao vivo em Cartagena no festival La Mar de Músicas perante arrebatados aplausos do público e da crítica com um espetáculo pensado ao pormenor, encenado por António Pires, com luz desenhada para sublinhar todo o drama nele contido. Depois de várias outras apresentações no estrangeiro, o espetáculo foi finalmente apresentado em Portugal em novembro passado no Misty Fest em quatro cidades.

 

LINA_

Há Camões, Justin Adams e desamor no novo fado de Lina

Há três anos a fadista Lina, na companhia do produtor e músico Raül Refree, juntaram-se à volta do repertório de Amália, surpreendendo o mundo com um álbum arrojado e celebrado em todos os quadrantes.

Agora, ei-la que regressa, ainda mais poderosa, não só na voz inconfundível mas também na composição de algumas canções, na companhia do produtor e músico britânico Justin Adams, reunidos à volta da poesia de Camões.  Para já haverá o single “Desamor” e, no início de 2024, o novo álbum que, de forma esclarecedora, receberá o título de “Fado Camões”.

A nova canção traça bem o renovado trajecto, numa lógica onde a familiaridade e a novidade andam a par. Reconhecemos alguns traços que fascinavam no anterior registo (e até nos dois álbuns iniciais, ainda como Carolina), como a elegância despojada, mas depois existe uma espacialidade e um lugar de respiração entre voz, piano, guitarra e quase silêncio, que criam outros cenários, com a dor, justeza e dignidade, a par.

“É uma canção que fala sobre os amores de infância”, reflecte Lina. “O poeta quer que uma criança consiga entender o poema e por isso coloca-o na boca de uma menina. E por esse poema ter essa caracteristica, em estúdio, quis que existissem momentos sonoros, no início, com uma proximidade ao som da caixa-de-música, remetendo para um certo universo infantil ou que nos pode evocar os amores de infância.”

É simultaneamente uma nova e uma reconhecível Lina que entrevemos, depois de ter trabalhado com o produtor catalão Raul Refree, conhecido pelos trabalhos com Rosalía, Sílvia Pérez Cruz ou Thurston Moore. O disco de ambos tornou-se num caso de sucesso, recebendo inúmeros reconhecimentos como o álbum do ano para a World Music Chart de 2020, Prémio Carlos do Carmo 2021, vencedor do Preis Der Deutschen Schallplattenkritik da Alemanha para Melhor Álbum de Música do Mundo do 1º Semestre de 2020, o Prix de L’ Académie Charles Cros de França (COUP de COEUR 2020), ou figurar no Top 5 dos melhores álbuns do ano para o francês Le Monde em 2020, ou nomeações como os os prémios Les Victoires du Jazz 2020 ou os Talent Music Moves Europe Awards 2021.

Agora abre-se um novo capítulo com Justin Adams, conhecido músico, compositor e produtor britânico, cúmplice de Robert Plant e da sua banda, e produção de álbuns para Robert Plant, Rachid Taha, Tinariwen, Jah Wooble ou mais recentemente com Souad Massi, para além de colaborações com Brian Eno, Sinead O’ Connor e diversos músicos árabes e africanos, como aconteceu com o músico Juldeh Camara da Gâmbia.

Na maior parte dos projectos onde se envolveu existiu sempre essa ideia de partir de estruturas sólidas, linguagens enraizadas na tradição, sejam blues, folk ou alguma música africana, e atribuir-lhes outras perspectivas, daí que não espante o desejo actual de abordar o fado e a voz de Lina.

Para além da graciosidade e do despojamento que rodeia a sua voz, dos acordes cristalinos da guitarra portuguesa que nos remetem para o fado, existe também um certo ambiente e balanço africanizado, como se o duo tivesse ido também à procura das origens e ligações entre fado e África.

É um álbum que, como se ouvirá, coloca a poesia de Camões em cenários de melancolia e suspensão, mas também de celebração da existência. Na concepção sonora, em estúdio, a rodear a voz de Lina, esteve a guitarra portuguesa de Pedro Viana, o piano, teclas e arranjos de John Baggott, músico e compositor que já operou com os Massive Attack ou Portishead, e também, em dois temas, Ianina Khmelik, no violino.

Na digressão que terá início em Fevereiro do próximo ano, a acompanhar Lina, em voz e sintetizadores, estará Pedro Viana, em guitarra portuguesa, bem como Ianina Khmelik, em violino, piano acústico e sintetizadores, prevendo-se que John Baggott também esteja presente em algumas datas.

É um novo capítulo que agora se começa a escrever, depois de Lina ter começado a cantar aos 10 anos no Círculo Portuense de Ópera e ter estudado no Conservatório, antes de se apaixonar pelas casas de fado, que nunca abandonou, e ter gravado os álbuns “Carolina” e “EnCantado”, assinados como Carolina. Depois vieram tempos de crescimento musical, e de expansão de horizontes, e agora existe Camões no seu horizonte e uma sonoridade renovada, onde o centro é ainda e sempre a sua expressividade vocal, sensorial, latejante, cheia de vida para nos tocar.

 

Laurent Filipe

CF079723 copy LEVE

 (Photo by Andreas Hoffman)

Laurent Filipe – biografia

Começou a tocar e gravar em Portugal aos quinze anos de idade.

Actuou como líder do seu próprio grupo e como “sideman” em diversos clubes e festivais de jazz nos E.U.A., Europa (nomeadamente, o Festival Internacional “Cascais Jazz ‘79”), África e Ásia.

Licenciou-se em Teoria e Composição Musical e trompete pela Universidade de Kansas (E.U.A.) em 1985, ano em que também recebeu o prémio “Art Farmer Perfomance Award” (E.U.A. 1985).

Estudou com os trompetistas Dr. Roger Stoner, Greg Hopkins e participou em seminários de Wynton Marsalis, Anthony Plog e Allen Vizutti e em 1987 obteve uma pós graduação em Composição Musical para Cinema pela Berklee College of Music (E.U.A.). Laurent Filipe é também doutorando em Ciências Humanas.

Participou em sessões com figuras marcantes do jazz tais como: Jimmy Mosher, Aldo Romano, Tete Montoliu, Carles Benavente, Maceo Parker e o lendário baterista Walter Perkins, entre muitos outros. Apareceu frequentemente como convidado especial de artistas como Mariza e Rui Veloso.

Em 1990 recebeu o prémio de “Melhor Solista 1990” no Festival Internacional de Jazz de Guetxo (Espanha), onde o seu grupo recebeu também o prémio de” Melhor Grupo”.

Colaborou activamente como compositor e instrumentista na “ Olimpíada Cultural Barcelona ‘92”, “Madrid Capital da Cultura” e “Lisboa Capital da Cultura’94”. Em 1996 obteve o prémio de “Melhor Músico de Jazz” pelo programa “Cinco Minutos de Jazz RDP”.

Ainda como compositor e instrumentista participou na “Expo’98” e no “Porto 2001” e em 2008 recebeu o primeiro prémio do concurso CAAM de composição de fados e canções SPA.

É autor de um extenso repertório nos campos da música tradicional, contemporânea (incluindo obras para o “Grupo de Metais do Seixal”, “Remix Ensemble” e “Opus Ensemble”), jazz e Afro-Cubano. Compôs a banda sonora do documentário “City at Night” (E.U.A.), a longa-metragem “Porto Santo”, o espectáculo multimédia “Quadrofonia do Tempo” e música para teatro que inclui obras como “Sebastião o Menino Rei”, encomendada pela Expo’98. “Augaciar, Viagem ao Fim do Milénio”, o musical “Mulheres ao Poder”, etc.

Mantém uma actividade regular como compositor, produtor, orquestrador, trompetista e conferencista em Portugal e no estrangeiro. Entre 2010 e 2013 exerceu as funções de director geral do “Musibéria Centro Internacional de Musicas e Danças do Mundo Ibérico” de Serpa (www.musiberia.com.pt)

Trabalha actualmente com as seguintes formações, das quais é autor: “Duo Iberia”, “Homenagem a Chet Baker”, “The Song Band”, o sexteto “Mingus e Mais”, o quarteto “Flick Music” (musica de flimes), “Swing City Orquestra”, a orquestra que serviu de suporte a Rui Veloso e o mais recente “Ar Trio”.

Mísia

Sobre Mísia

Nascida na cidade do Porto, no norte de Portugal, Mísia representa a terceira geração de artistas da sua família. Naturais de Barcelona, em Espanha, a sua mãe e a sua avó materna haviam sido, respetivamente, bailarina de música clássica e artista de music-hall e burlesque.

Até aos últimos anos da adolescência, Mísia viveu na sua cidade natal, cantando ocasionalmente em casas de fado, sempre como amadora.

Quando tinha quase 20 anos, mudou-se, por motivos familiares, para Barcelona e, mais tarde, para Madrid. A sua veia artística era já bem evidente, levando-a a envolver-se em produções de música, dança, music-hall e televisão. Contudo, a vocação que a tornaria célebre ainda não se havia materializado. É em 1991 que esse caminho começa a ser trilhado, quando Mísia decide voltar a Portugal, estabelecendo-se em Lisboa, determinada a construir um repertório próprio dentro do universo do fado.

Não esquecendo nunca a revelação que significou para si, na adolescência passada no Porto, o fado tradicional, Mísia sente, neste regresso a Portugal, que, ao invés de se apoiar em êxitos musicais dos artistas que admira, deve criar um repertório seu. Começa assim aquilo a que, segundo o jornalista e escritor Manuel Halpern, virá a chamar-se o Novo Fado. Imbuída deste espírito de missão, Mísia contacta pessoalmente poetas e compositores, cantores-autores, fotógrafos, designers e estilistas portugueses, apresentando-lhes a sua visão do fado.

Entre os vultos da cultura nacional que aceitam escrever especificamente para a sua voz encontram-se o Prémio Nobel da Literatura José Saramago, Agustina Bessa-Luís, José Luís Peixoto, Lídia Jorge, Vasco Graça Moura, Mário Cláudio, Paulo José Miranda, Hélia Correia e Amélia Muge, bem como os músicos Jorge Palma, Vitorino e Sérgio Godinho, entre outros.Internacionalmente recebeu também atenções de peso: Patrice Leconte dirigiu um dos seus videoclips, John Turturro escolheu-a para o seu filme Passione, William Christie programou-a na Cité de la Musique em Paris.

Numa altura em que tudo estava por fazer, no que toca à consagração do fado no mundo, já que fora de Portugal a única referência que o público tinha deste género musical era a da grande Amália Rodrigues, Mísia começa a conquistar o seu próprio espaço na canção nacional.

Durante anos a fio, consolida uma carreira nacional e internacional, actuando em palcos de grande prestígio mundial, com destaque para o Teatro Nacional de São Carlos, em Lisboa, o Town Hall de Nova Iorque, o Royal Theatre Carré de Amesterdão, o Teatro Maria Guerrero, em Madrid, o Palau de la Musica, em Barcelona, o Cour d’Honneur du Palais des Papes, em Avinhão, o Piccolo Teatro, de Milão e o Theatre Coccoon de Tóquio. Em Paris, deixa a sua marca em salas como o Olympia, o Thêatre des Bouffes du Nord (com programação de Peter Brook) a Cité de La Musique, contribuindo para o enriquecimento do fado dos nossos dias e para o seu reconhecimento. Durante esta caminhada, Mísia respeita a tradição, transportando-a, ao mesmo tempo, até à periferia de uma contemporaneidade, tanto na forma como no conteúdo.

Ao longo da sua carreira, sucedem-se os concertos memoráveis, tendo Mísia levado o fado a salas e festivais que nunca o haviam abraçado, como o Grande Auditório da Culturgest, em Lisboa, o Festival de Avignon, no Théatre du Châtelet, em Paris, a Berliner Philharmonie, em Berlim, o Arts Festival de Hong Kong e o festival WOMAD.

Na celebração dos sentimentos intemporais e universais, não só em português como em vários outros idiomas, Mísia é a cantora portuguesa que desperta maior culto internacional, vendo o seu trabalho reconhecido com críticas elogiosas nas mais relevantes publicações da imprensa mundial, como as revistas Billboard e Gramophone ou os jornais New York Times, Libération, Die Zeigt, The Washington Post e The Independent.

Com este seu fado “contemporâneo”, alcança grandes êxitos um pouco por todo o mundo e vê o seu talento musical ser reconhecido com a atribuição de vários prémios e condecorações: em Portugal é agraciada com a Medalha de Mérito e conquista o Prémio Amália Rodrigues na categoria Divulgação Internacional, em Itália ganha o Prémio Carossone e o Prémio de cinema Gilda e em França recebe a Medaille de Vermeil, a mais alta condecoração da cidade de Paris. Num país que sempre soube acolhê-la, é ainda nomeada Chevalier e, posteriormente, Officier de l’Ordre des Arts et des Lettres de la République Française.

A cineasta chilena Carmen Castillo faz dois filmes sobre Mísia para o canal franco-alemão ARTE.

A artista conceptual Sophie Calle convida-a a participar no seu projeto Prenez soin de vous na 52ª Bienal de Veneza.

Mísia é uma “voz de personagem” que participa em vários projetos alternativos à sua carreira como fadista. Exemplos desta versatilidade são: A História do Soldado, de Stravinsky, Os Sete Pecados Mortais dos Pequenos Burgueses, de Kurt Weill e Bertold Brecht, Maria de Buenos Aires de Piazzolla e Ferrer, bem como a sua participação no álbum Mediterrâneo do grupo barroco L’Arpeggiata. Em 2013, ela participou como atriz na peça L’Abattoir Invisible de Karin Serres.

Em Fevereiro de 2015, Mísia foi acompanhada pela Filarmónica de Bremen para realizar um repertório que incluía não só o fado, mas também Lieder de Schubert.

Em 2016 realiza Giosefine um projeto teatral baseado num texto Letter from Casablanca de Antonio Tabucchi e direção de Guillermo Heras. Estreia mundial no Teatro Regio em Buenos Aires.

Recentemente foi convidada pela pianista Maria João Pires para participar no projeto Canto da Terra, que teve lugar em Belgais, Portugal.

O seu mais recente trabalho Animal Sentimental, assinala os 30 anos de carreira em sob a fornma de um triptico: um álbum, um livro autobiográfico e um espetáculo em que junta a histórias do livro e a música do disco.

DISCOGRAFIA:

1991 – Misia (EMI / Valentim de Carvalho Portugal)
1993 – Fado (BMG / Ariola Portugal)
1995 – Tanto menos tanto mais (BMG / Ariola Portugal)
1998 – Garras dos sentidos (Erato Disques / Warner Music Classic) 1
1999 – Paixões Diagonais (Erato Disques / Warner Music Classic)
2001 – Ritual (Erato Disques / Warner Music Classic)
2003 – Canto (Warner Music Jazz France)
2005 – Drama Box (Naïve France)
2009 – Ruas (álbum duplo: Lisboarium et Tourists) (AZ / Universal)
2013 – Delikatessen Café Concert (Produtores Associados)
2011 – Senhora da Noite (Silène / LʼAutre Distribution)
2015 – Para Amália (Verycords / Warner Music France)
2016 – Do Primeiro Fado ao Último Tango Best Of (Warner Music Classic)
2019 – Pura Vida – Banda Sonora (Galileo Music)
2022 – Animal Sentimental (Galileo Music)

 

 

 

 

Gaiteiros de Lisboa

Quando primeiro surgiram, em 1991, os Gaiteiros de Lisboa eram “outra coisa”. Mesmo pelo meio de uma cena musical fervilhante de novos olhares para a música tradicional portuguesa, os Gaiteiros promoviam o embate directo entre tradição e inovação, respeito pelo passado e vontade de abrir caminhos para o futuro.

De um lado, músicos veteranos que tinham aprendido com as recolhas de Giacometti e tocado com nomes como José Afonso, Sérgio Godinho, José Mário Branco (que viria a produzir o primeiro disco do grupo) ou Fausto. Do outro, músicos oriundos da cena pop ou rock ou jazz que olhavam para a tradição de modos totalmente novos.

A conjugação projectava os Gaiteiros de Lisboa para outro patamar, com a gaita de foles trazida por Paulo Marinho (Sétima Legião) e as polifonias vocais lideradas por Carlos Guerreiro e José Manuel David no centro de um furacão criativo que estava permanentemente em ebulição. Como diz a frase: “a tradição já não é o que era nem será o que foi e nunca foi o que pensávamos que era”.

E o que saiu dessa abordagem era “outra coisa”. Nas palavras do crítico do Expresso, João Lisboa, “os Gaiteiros de Lisboa habitam um universo inteiramente privado […] (onde) muito pouco ou nada funciona de acordo com as normas com que habitualmente a música é lançada à pauta”.

Trinta anos depois, o mundo mudou, a formação do grupo também. Em “Bestiário”, sexto álbum de material original e primeiro em sete anos, apenas Carlos Guerreiro e Paulo Tato Marinho restam dos Gaiteiros que entraram em estúdio pela primeira vez em 1995. A nova formação completa-se com Miguel Veríssimo, Miguel Quitério, Paulo Charneca  (que já fez anteriormente parte do grupo) e Sebastião Antunes (dos Quadrilha).

Mas os Gaiteiros de Lisboa, tendo mudado, não mudaram: continuam a ser “outra coisa”. Como a aldeia gaulesa do Astérix, os Gaiteiros resistem, ainda e sempre, a serem metidos numa gaveta. A gaita de foles e as polifonias vocais continuam no centro, a música ao seu redor continua a ser surpreendentemente moderna, inventiva, viva, contemporânea e ao mesmo tempo intemporal. Nunca se ouviu o clássico açoriano “Chamateia” desta maneira; um tema novo como “Brites de Almeida” parece um clássico tradicional só agora reencontrado.

E os muitos convidados de “Bestiário” insistem nessa fuga a categorias e gavetas. A companheiros de percurso como o açoriano Zeca Medeiros ou a veterana Filipa Pais juntam-se o jovem colectivo vocal feminino Segue-me à Capela e João Afonso Lima, sobrinho de Zeca. Pedro Oliveira, dos Sétima Legião, dá voz a “Besta Quadrada” e Rui Veloso empresta a sua guitarra eléctrica e a sua voz a “Comprei uma Capa Chilrada”.

“Bestiário” é inteiramente composto por material inédito em disco – as excepções são “Roncos do Diabo”, publicado na compilação de 2018 “A História”, e “Comprei uma Capa Chilrada”, gravado pela primeira vez em “Sátiro” mas aqui numa versão regravada.

“Bestiário” confirma como os Gaiteiros de Lisboa, trinta anos depois do início e com uma formação nova, continuam a ser “outra coisa”, a habitar o mesmo universo privado alheio a modas passageiras e aberto a tudo o que nele caiba. Ou seja, os mesmos Gaiteiros de sempre: imprevisíveis, inconfundíveis, imprescindíveis.

GAITEIROS DE LISBOA

CARLOS GUERREIRO | MIGUEL QUITÉRIO | MIGUEL VERÍSSIMO |PAULO CHARNECA | PAULO TATO MARINHO | SEBASTIÃO ANTUNES

BESTIÁRIO

Produção e direcção musical de CARLOS GUERREIRO

excepto “BESTA QUADRADA” (PAULO MARINHO)

e “CANTO DO CORAÇÃO” (MIGUEL QUITÉRIO)

Co-produção, gravação e mistura de CARLOS JORGE VALES

 “BALEEIROS DE NEW BEDFORD”

(com ZECA MEDEIROS)

“RONCOS DO DIABO”

“CANTO DO CORAÇÃO”

“BRITES DE ALMEIDA”

“BESTA QUADRADA”

(com PEDRO OLIVEIRA)

“CHAMATEIA”

(com FILIPA PAIS e JOÃO AFONSO)

“FLECHA “

(com SEGUE-ME À CAPELA)

“PARA SANTALICES”

“NATIVIDADE”

“COMPREI UMA CAPA CHILRADA “

(com RUI VELOSO)

“LOLITA FIREWINGS”

DISCOGRAFIA

1995 – INVASÕES BÁRBARAS (Farol)

1997 – BOCAS DO INFERNO (Farol)

2000 – DANÇACHAMAS (ao vivo) (Farol)

2002 – MACARÉU (Aduf)

2006 – SÁTIRO (Aduf/Sony Music)

2012 – AVIS RARA (D’Euridice)

2018 – A HISTÓRIA (compilação) (Uguru)

2019 – BESTIÁRIO (Uguru)

Danças Ocultas

Um oceano também é um mar de sons, e o instrumento pode ser a nossa nave. Há fluxos e refluxos, nessa imensidão.
Há marés e bons ventos – que são o alento dos viajantes – e miríades de fulgores entre longínquas margens.
E há vozes, outros tons e inflexões, outras pessoas e cidades, uma azáfama grande. Poemas (e poetas).
Procura-se o caminho: é em diante, onde a surpresa talvez seja constante.
E há danças ocultas dentro desse mar.

Jorge Pereirinha Pires

Os Danças Ocultas de Artur Fernandes, Filipe Cal, Filipe Ricardo e Francisco Miguel são – e é lícito escrevê-lo tendo em conta que levam já praticamente três décadas de carreira – um dos grandes tesouros da música portuguesa contemporânea.
O invulgar quarteto de concertinas é caso sem paralelo na história moderna da música portuguesa: mesmo tendo adoptado instrumentos populares, o grupo conseguiu levar a sua música às mais respeitadas salas nacionais e internacionais, dividir palcos com orquestras clássicas e colaborar com importantes nomes da música, de Rodrigo Leão a Carminho entre outros.

Agora, os Danças Ocultas apresentam o mais ambicioso projecto artístico da sua carreira: Dentro desse mar foi gravado entre Dezembro de 2017 e Junho de 2018 nos estúdios Casa do Mato, no Rio de Janeiro, com o conceituado Jaques Morelenbaum aos comandos da produção. O violoncelista, compositor, arranjador e produtor tem um currículo de luxo que cruza o seu percurso com o de artistas tão importantes quanto Tom Jobim, Caetano Veloso, Marisa Monte, Madredeus, Ryuichi Sakamoto ou David Byrne, para citar só alguns.

Com participações de Marcos Suzano, Paulo Braga, Marcelo Costa e Robertinho Silva (percussões), David Feldman (piano), Lula Galvão (violão e guitarra eléctrica), Rogério Caetano (violão), Luis Barcelos (cavaquinho e bandolim) e Tiago Abrantes (clarinete), o álbum conta com composições e arranjos dos próprios Danças Ocultas e ainda participações de Carminho, Zélia Duncan e Dora Morelenbaum nas vozes e do próprio Jaques no violoncelo.

Por outro lado, os temas com voz contam com letras de Arnaldo Antunes (“Dessa Ilha”), Carlos Rennó (“As Viajantes”) e Tiago Torres da Silva (“O Teu Olhar”). Três mestres na arte de criar imagens com as palavras de que se faz a nossa língua que é, ela mesma, um mar dentro do qual todos vivemos.

No mais recente álbum, os Danças Ocultas reinventam-se sem perderem a vincada identidade que lhes valeu tanta atenção nacional e internacional, conseguindo manter a ligação à sua própria história e passado e abrindo ao mesmo tempo um novo oceano de possibilidades para o futuro. O trabalho de Jaques Morelenbaum foi a esse nível um triunfo: o produtor soube entender o que torna os Danças Ocultas tão singulares e também adivinhar na sua arte novas nuances que rendem um maravilhoso registo, amplo na sua abertura ao mundo, cheio de ideias, de sons, de palavras e melodias. É Dentro Desse Mar que os Danças Ocultas querem agora viajar. E todos estamos convidados a embarcar com eles, rumo a novas aventuras.

 

Rodrigo Leão

Em 2018, Rodrigo Leão comemorou o 25º aniversário de uma carreira a solo que o levou ao reconhecimento global. Foi em 1993 que Rodrigo, então ainda parte integrante dos Madredeus, editou o seu primeiro trabalho em nome próprio: Ave Mundi Luminar explorava recantos criativos que não cabiam nos seus projectos anteriores. O disco tornou-se num sucesso inesperado e o resto, como se costuma dizer, é história.

No quarto de século que decorreu desde Ave Mundi Luminar, Rodrigo tornou-se num dos mais queridos de todos os artistas portugueses, e não apenas entre nós! A par dos álbuns que chegaram ao 1º lugar das tabelas de vendas em Portugal, várias gravações suas viram edição internacional em marcas tão prestigiadas como a Deutsche Grammophon ou a Sony Classical.

Explorando sem medos as múltiplas possibilidades da composição, entre o popular e o erudito, o electrónico e o orquestral, o seu nome é citado ao lado de referências da música contemporânea como Ryuichi Sakamoto, Ludovico Einaudi ou Jóhann Jóhansson. Escreveu bandas-sonoras para filmes tão diferentes como a comédia de sucesso A Gaiola Dourada, o drama nomeado para os Óscares O Mordomo, a série televisiva Portugal – Um Retrato Social ou o documentário sobre os anos 1960 No Intenso Agora. E, nas suas canções, colaborou com artistas como Beth Gibbons dos Portishead, Neil Hannon dos Divine Comedy, Scott Matthew, Rui Reininho dos GNR, Joan as Police Woman, Stuart Staples dos Tindersticks ou Lula Pena.

Os seus 25 anos de música foram comemorados com um ano cheio de projectos de palco e de estúdio que passaram pela retrospectiva de carreira O Aniversário; o relançamento da banda-sonora de Portugal, um Retrato Social sob o título Os Portugueses; o convite para escrever música para a exposição do Museu Gulbenkian Cérebro – Mais Vasto que o Céu; e uma longa série de concertos em Portugal e no estrangeiro.

Em Fevereiro de 2020 Rodrigo editou globalmente pela BMG O Método, um novo álbum de material original co-produzido pelo aclamado músico, compositor e produtor italiano Federico Albanese, que ajudou Rodrigo a encontrar o som mais simples e depurado que pretendia para este trabalho.

Mas este novo passo em frente na sua carreira acabou por ser publicado pouco antes da pandemia de Covid-19 se ter espalhado pelo mundo. As exigências sanitárias obrigaram ao cancelamento da digressão mundial prevista para o seu lançamento. Rodrigo confinou-se no Alentejo e desses meses passados entre a natureza começaram a surgir novas inspirações e novas melodias.

O material que Rodrigo foi criando durante o último ano e meio forma assim uma espécie de “trilogia”. A O Método, lançado antes da pandemia, sucedeu-se um EP publicado apenas em formato digital durante o confinamento, Avis 2020, gravado inteiramente a solo e inspirado pelos sons da natureza.

E, depois do confinamento, Rodrigo deu por si a trabalhar num novo e inesperado disco de originais a que deu o título A Estranha Beleza da Vida. Este novo trabalho foi criado e gravado descontraidamente, surgindo naturalmente e de modo surpreendentemente rápido, e conta com a participação de nomes como Kurt Wagner (Lambchop), Michelle Gurevich, Martírio, Surma ou Suso Saiz.

Os três registos, juntos, formam uma “trilogia” a que Rodrigo deu o título genérico A Liberdade e que foi editada em simultâneo com o lançamento global de A Estranha Beleza da Vida através da BMG, a 15 de outubro de 2021, coincidindo com o aguardado regresso aos palcos.

Amélia Muge

Cantora e compositora, com vários discos editados e muitas canções escritas também para outros cantores. Ligada à música, teatro, dança, cinema de animação, ilustração, literatura, multimedia. Parcerias como compositora: Hélia Correia, Maria do Rosário Pedreira, João Monge, entre outos.  Compõe para a poesia de Fernando Pessoa, Natália Correia, Ramos Rosa, Camões, Baudelaire, Paul Élouard, entre outros.  Tocam e cantam temas seus:  Ana Moura, Camané, Mísia, Cristina Branco, Pedro Moutinho, Gaiteiros de Lisboa,  Melech Mechaya, entre outros. Na área do canto à capela colabora com Cramol, Moçoilas, Segue-me à Capela, Sopa de Pedra, Maria Monda, Outra Voz. Como intérprete participa em concertos e/ou na discografia de outros músicos e cantautores como Fausto e José Mário Branco. Os seus álbuns constam das listas dos melhores do ano em jornais como o Público, Diário de Notícias, Blitz ou Expresso. O CD “Todos os Dias”(1994) está incluído nos “100 melhores Álbuns de sempre da Música Portuguesa”, edição do Jornal Público . “Taco-a-taco” recebe o prémio Zeca Afonso (1996).  Parcerias internacionais : Amancio Prada, Vozes Búlgaras do Pirin Folk Ensemble, Elena Ledda, Lucilla Galeazzi, Ricardo Tesi, Carlo Rizzo, Kronos Quartet, entre outos. Edita “A Monte”(1998), “ Não Sou daqui”  (2002),  “O Dono do Nada” (Teatro- 2005), “Uma Autora 202 canções” (2009). Edita, com Michales Loukovikas, “PERIPLUS, Deambulações Luso-Gregas” (2012) sendo o melhor álbum do ano  (Expresso e Público), um dos 3 melhores (SPAutores) , um dos 10 melhores  (Mundofonias, Espanha) e nomeado para os 10 melhores álbuns internacionais (Folkroots). 

É autora da peça para a infância: O Dono do Nada ( Centro Olga Cadaval e Teatro Maria Matos) com parcerias artísticas com António Jorge Gonçalves ( Desenho Digital) e Adriana Queiroz (coreografia). 

Prémio da Academia Charles Cros (França): CD Ruelles (2013).  Livro“Amélia com versos de Amália” (2014)  com estreia na Culturgest.  

Como autora e directora artística realiza o concerto de homenagem a Jony Mitchel com oito cantoras portuguesas entre elas Luisa Soberal, Márcia e Manuela Azevedo e também : De VIVA VOZ, o Canto profundo à Capela com quatro dos mais significativos grupos de canto à Capela Portugueses. Edita com Michales Loukovikas”ARCHiPELAGOS, Passagens”(2018) fazendo dezenas de apresentações dentro e fora do país em parceria com  museus, associações culturais, bibliotecas, universidades, entre outros e tendo a colaboração de etnomusicólogos, críticos literários, jornalistas, designers, músicos, escritores, entre outros. Em 2019 é artista convidada de Patxi Andion, Sopa de Pedra, Segue-me à Capela, André M. Santos; compõe para o CD de Pedro Moutinho”Um fado ao Contrário” e escreve para o CD-Livro de Filipe Raposo, Ocre com quem realiza também um concerto de homenagem a Hermínio Monteiro; participa nos Festivais Literários: Correntes Descritas (Póvoa do Varzim) e Festival Literário do Douro (Vila Real);  faz o libreto da “Sinfonia da Liberdade- Sobreviveremos”de André Santos.  Em 2020  faz a direcção artística e é autora de vários temas do álbum de Carla Pires, Cartografado, é autora no CDLina e Raul e é directora artística da peça para a infância dedicada a Amália Rodrigues: Assim devera eu ser ( Centro Cultural de Belém). 

             Em 2021 participa no novo CD de Camané e produz o seu novo trabalho: AMÉLIAS com edição em 2022.