Edição de 2018 – Lisboa,Teatro Tivoli BBVA:
– 27 de Abril: Rodrigo Leão Instrumental – O Ensaio | Hauschka – What If
– 24 de Maio: Peter Broderick – All Together Again | Federico Albanese – By The Deep Sea
– 28 de Junho: Rui Massena | Peter Sandberg
Quando a música clássica é também pop isso é CLASSIC WAVES.
Desarrumemos a sala. Mudemos os móveis de lugar. Esqueçamos por um momento as prateleiras onde tentamos arrumar a realidade. Coloquemos os discos de música clássica misturados com os da pop.
Pensamos a música através de prateleiras e classificações. Mas de vez em quando existem momentos em que uma série de músicos nos interpela e desafia a reavaliar aquilo que dávamos como arrumado.
Esta é uma dessas ocasiões históricas. Compositores e músicos como os portugueses Rodrigo Leão e Rui Massena, o americano Peter Broderick, o alemão Hauschka, o italiano Federico Albanese ou o sueco Peter Sandberg põem em causa algumas das nossas certezas.
São da música clássica ou da popular? Tiveram uma aprendizagem clássica ou são autodidactas? A que tipos de públicos se dirigem? Onde os arrumamos? No centro destas questões estará o CLASSIC WAVES – 1º Ciclo de Música Clássica Moderna, com uma série de três concertos duplos, a decorrem no Tivoli em Lisboa, que se estenderá por Abril, Maio e Junho. A 27 de Abril haverá Rodrigo Leão e Hauschka. A 24 de Maio, Peter Broderick e Federico Albanese. E a 28 de Junho, o encerramento, com Rui Massena e Peter Sandberg.
Estes compositores mostram que as concepções da música clássica podem coabitar livremente com as da música popular. Mais: pelo facto de se posicionarem junto às fronteiras desses universos, movimentando-se nas duas direcções, ajudam a derrubar barreiras. Conhecem os dois lados e por isso permitem-se ter uma atitude natural com divisões que não vislumbram. Esse muro, sabem-no, está mais na imaginação, e nas construções sociais, do que na realidade.
O piano é, por norma, o seu instrumento de eleição, com a sensibilidade clássica a ser complementada por uma miríade de influências, da música electrónica, do ambientalismo, do progressivo, da folk ou da pop no sentido mais global. E quando não é a música, é a atitude ou visual que comunica esse desafio de mudar convenções.
A maioria estudou em conservatórios, mas também os há intuitivos. Tanto compõem para álbuns da sua autoria, como criam bandas-sonoras para cinema, dança, teatro ou instalações de arte. Por norma são novos, mas acabam por seguir uma linhagem já desenvolvida por músicos experimentados, de Michael Nyman a Wim Mertens, passando por Ludovico Einaudi. Para além dos que vamos ter oportunidade de ver em Lisboa nos próximos meses, poderíamos falar de Nils Frahm, Ólafur Arnalds, Douglas Dare, Lubomyr Melnyr, Nico Muhly, Max Ritcher ou Francesco Tristano e muitos outros.
Falamos de uma verdadeira vaga de músicos que se movimenta em territórios híbridos, daí que seja difícil encontrar uma nomenclatura minimamente consensual para os nomear. Neoclássicos, pós-clássicos, clássicos modernos ou clássicos ‘indie’, são apenas algumas dessas denominações que foram sendo arremessadas para o espaço público nos últimos anos, no fim de contas, acabando apenas por reflectir essa dificuldade em os situar de uma forma consensual.
Essa maleabilidade, na forma como se adaptam a diferentes territórios, é perceptível pelo facto de tanto tocarem em auditórios de salas requintadas, como em palcos mais informais que partilham com grupos do universo pop ou rock, numa saudável coabitação.
Dir-se-ia que esse tráfico nos dois sentidos interessa a ambos os campos. Por um lado a música clássica, depois da iconoclastia da primeira metade do século XX, precisa talvez de um novo Boulez ou Stravinsky para agitar as águas, ao mesmo tempo que necessita de seduzir um público mais novo e transversal, no sentido de uma renovação que é necessária, até para acabar com essa ideia de que os concertos de música clássica apenas são vivenciados por nichos.
Por outro lado, do campo da música popular, é importante que a sensibilidade clássica possa constituir uma fonte de inspiração, depois de esgotadas muitas fontes de revitalização, incluindo o jazz. Mas mesmo que assim não fosse, existe a realidade mais premente, e essa diz-nos que as gerações mais novas consomem cada vez mais músicas muito diferenciadas, podendo ouvir de manhã, Gorecki, à tarde o rock alternativo dos The National e à noite o jazz de Coltrane.
A apetência para se relacionarem, e incorporarem, os mais diversos géneros de música, não está apenas do lado de alguns músicos. Existe um público crescente com a mesma atitude. Basta ter algum contacto com festivais de jovens músicos de música clássica para o perceber.
O seu perfil mudou imenso nos últimos anos. Têm uma forma de ouvir e lidar com a música que é transversal, tanto ouvindo Bach ou Vivaldi, como pop ou jazz. E esse mesmo entendimento parecem ter, hoje, as grandes editoras da música clássica, como a Deutsche Grammophon ou a Decca, que convidam músicos das electrónicas para recriarem o seu catálogo ou tentam impulsionar um circuito de novas figuras da música clássica, na qual a juventude dos intérpretes, as novas estratégias de imagem ou os programas ousados propostos, funcionam como factor de atracção junto de públicos emergentes.
É nesse ponto de confluências, onde se incluem diversas músicas e diferentes formas de a experimentar, passíveis de coabitarem em harmonia, que o Classic Waves se posiciona. Estes compositores criam música que é capaz de nos transformar na nossa relação connosco próprios e com aquilo que nos rodeia, através de sons emocionais, intimistas e calorosos. Acreditamos que é possível estabelecer pontes entre territórios, pertencendo a vários deles sem a pressão de termos de optar apenas por um, assumindo essa complexidade, mostrando que a realidade é por vezes mais fascinante do que as muitas prateleiras onde a tentamos arrumar.
Sejam bem vindos, ao CLASSIC WAVES.